Os Dez Mandamentos estão descritos em dois lugares no Velho Testamento: Êxodo 20 e Deuteronômio 5. Há pouquíssimas divergências entre as duas versões.
Tem havido, porém, na História da Igreja, divergência quanto a forma de numerar os Dez Mandamentos.
A NUMERAÇÃO CLÁSSICA
Na interpretação clássica, oriunda dos judeus, aceita pela maior parte dos Pais da Igreja e da Igreja Grega e Latina, que foi aceita por Zuínglio e Calvino, e que aparece na maior parte das Bíblias chamadas Protestantes. Igreja Grega (Ortodoxa) interpreta o Mandamento 2 como proibindo o uso de esculturas, ou seja, imagens tridimensionais, não de pinturas e ícones, ou seja, imagens bidimensionais.
1 – Proibição de Politeísmo (obrigação de adoção do Monoteísmo do Deus de Israel)
2 – Imagens (proibição de confeção, adoração e uso)
3 – Nome em vão (proibição do uso do nome de Deus em vão)
4 – Sábado (obrigação da guarda do Sábado)
5 – Pai e mãe (obrigação de honra aos pais)
6 – Assassinato (proibição de assassinato)
7 – Adultério (proibição de adultério)
8 – Furto (proibição de furto)
9 – Falso testemunho (proibição de falso testemunho)
10 – Cobiça (proibição de cobiça)
A NUMERAÇÃO DE AGOSTINHO, DE PARTE DA IGREJA CATÓLICA E DE LUTERO
Esta interpretação, originada por Agostinho, tenta amenizar a proibição do uso de imagens (de qualquer tipo, tridimensionais ou bidimensionais). Assim, os Mandamentos 1 e o 2 são juntados em um só, para dar a impressão de que a proibição de imagens é parte do mandamento monoteísta. Para reconstituir os dez, o último mandamento, o de número 10 na numeração clássica, é desdobrado em dois, o 9 e o 10. A lista, neste caso, fica assim:
1 – Monoteísmo + Imagens
2 – Nome em vão
3 – Sábado
4 – Pai e mãe
5 – Assassinato
6 – Adultério
7 – Furto
8 – Falso testemunho
9 – Cobiça 1 (casa)
10 – Cobiça 2 (mulher, servo, animal, etc.)
Curiosamente, Lutero favoreceu esta segunda numeração. Isto explica porque se opôs às ações mais radicais de Andreas Rudolf Bodenstein von Karlstadt, realizadas quando ele, Lutero, estava “preso” no Castelo de Wartburg, durante parte dos anos de 1521-1522. Na ausência de Lutero, Karlstadt (prefiro chama-lo assim), que era Reitor / Chanceler da Universidade de Wittenberg, e, portanto, superior hierárquico de Lutero na Universidade, tendo sido a pessoa que oficialmente concedeu a Lutero seu Doutorado em Teologia em 1512, e que, só para comparar, possuía três Doutorados (em Teologia, em Direito Canônico e em Direito Civil), optou, entre outras coisas, por remover das igrejas de Wittenberg, imagens, tridimensionais e bidimensionais. Quando Lutero retornou à Wittenberg, para “pôr ordem na casa”, opôs-se severamente ao que o seu chefe havia feito em sua ausência. O acontecido criou uma desavença entre os dois que, embora tenha sido aplainada um pouco com o tempo, nunca desapareceu de todo.
Informações retiradas, em grande medida, dos dois livros de Diarmaid MacCulloch: Christianity: The First Three Thousand Years e The Reformation.
Em Salto, 19 de Maio de 2017
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